quinta-feira, 12 de junho de 2014

Andarilhos... Delírios e motivos de uma vida errante

Por Joab Ricardo

Sempre acompanhado de uma maquina fotográfica e observando o mundo ao nosso redor eu, Joab Ricardo e meu amigo fotógrafo Maiones Sousa nos deparamos as margens das rodovias com diversos tipos de andarilhos. Em nossas mentes surgiram questionamentos dos motivos que levam as pessoas a optaram por um estilo de vida errante, sem identidade, passado, futuro, família ou qualquer outra coisa que possa produzir laços afetivos. 
Para alguns os motivos são exclusivamente espirituais, como entidades demoníacas que se apossam das pessoas (Gira Mundo) consequência do afastamento desses indivíduos da fé e da religião. Analisando friamente a situação dessas pessoas e buscando ajuda na psiquiatria chegamos a diversas conclusões; os andarilhos são acima de tudo maníacos depressivos, que renunciaram a convivência com outras pessoas, buscando na solidão a verdadeira redenção e contato com o divino. Os motivos podem ser econômicos como a pobreza e o desemprego. No campo da afetividade como a morte de entes queridos ou desilusões amorosas ou simplesmente no campo espiritual, onde muitos dizem realizar uma missão divina que tem por objetivo redimir a humanidade. Nesse ultimo grupo são pregadores messiânicos com ideias delirantes, todos eles megalomaníacos. 
Após o rompimento com toda sociedade eles ganham o trecho, levando consigo muitas vezes apenas uma muda de roupa, um plástico para se proteger da chuva ou dormir, a “cumbuca” (vasilha para colocar a comida) e a “pá” (colher para comer). Frequentemente eles também carregam além da água uma garrafa de cachaça, segundo eles, essa última nunca fica vazia, pois tem sempre alguém para colaborar com a “cana”. 
Esses andarilhos nunca carregam algo de valor ou coisa que lembre a sua vida antes do trecho. O abuso do álcool produz pensamentos delirantes, muitos se acham dominados por forças malignas, outros têm delírios de grandeza e de total aniquilamento do Eu. A caminhada dessas pessoas as margens das rodovias não tem destino ou ponto de chegada, como não usam documentos eles simplesmente não existem para a sociedade que passa constantemente por eles, são figuras bizarras reflexos de um mundo conturbado e carente de valores.
Caminhando sozinho eles estão expostos ás intempéries e as maldades do que se acham donos da estrada. São muitas as adversidades encontradas por esses “loucos” sem identidade, mas eles não se importam, pois não confrontam realidades, a solidão é uma escolha, viver sem vínculos afetivos, memorias do passado, saudades da terra natal, não pensam no progresso ou melhoria de vida. São solitários por essência, imediatistas, individualistas e acima de tudo errantes. As personalidades errantes das estradas são blindadas pelos mais diversos delírios que se constituem defesas contra o estado de indigência econômica e social, sofrimento e penúria que são relegados. Todas essas pessoas tinham vidas comuns como eu e você, mas a linha que separa o politicamente correto dos delírios mais insanos é muito tênue. Eles continuam nas estradas em busca do seu Eldorado, da Nova Jerusalém ou simplesmente do nada...